terça-feira, 1 de maio de 2012

foto do silvio


PROVIDÊNCIA DIVINA


Conto


            Assim como ocorre em outras partes do mundo, as pessoas vivem divididas em classes sociais conforme suas condições de vida, preparo cultural, econômico, moral, de tal sorte que uns vivem na luxuria usufruindo de tudo que desejam para satisfazer suas vontades, outros se contentando com o necessário para a sobrevivência e uma grande parte restante vivendo na mais profunda pobreza não tendo sequer alguns o que comer diariamente.
            Um desses  exemplos tristes de vida humana foi a do Thiago, cidadão humilde, sem recursos de qualquer natureza, emprego, instrução escolar totalmente deficiente,  parentes que lhe desse uma ajuda, qualquer que fosse e que vivia seus dias das coisas que encontrava pelo caminho ou de algum alimento que alguém por caridade  lhe fornecia no dia-a-dia.
            Por não ter residência fixa, um dia dormia num canto, outro dia em outro, pelos becos, bancos, porta de igrejas, etc.
            Como vivia numa cidade litorânea, as vezes dormia pelas praias, principalmente quando fosse uma noite de clima quente e que não requeresse uso de cobertas e tapumes para lhe proteger do frio. Seus bens se resumiam  num velho saco de pano que carregava consigo por toda parte,  onde guardava uma pequena caneca de plástico, duas camisas e uma calça todas usadas, que havia ganho de alguém e um surrado cobertor desses bem simples, que lhe cobria o corpo nas noites de frio.
            Numa dessas noites quentes de céu límpido e estrelado estava ele no canto de uma escura e deserta praia, já tarde da noite, sentado em uma grande pedra que havia na praia, com os cotovelos escorados nos joelhos e as mãos espalmadas em ambas as faces, apreciando a imensidão do mar com suas ondas a esborralhar-se pela praia afora, pensativo e lamentando a vida que levava neste mundo, indagando a Deus porque tudo tinha que ser assim para ele.
            Era uma bela noite de lua cheia e esta com seus raios brilhantes iluminava o horizonte pintado nas águas do oceano uma  coloração prateada pelos belos efeitos sobre as  ondas que se formavam seguidamente umas após  as outras .
            Nesta postura e momento de lamentação, seus olhos observaram  que na areia da praia  toda  vez que  uma onda se quebrava por toda sua extensão e retornava para o mar, aparecia um objeto muito  brilhante de forma circular,  que tinha mais ou menos uns oito centímetros de diâmetro o  qual resplandecia  aos sues olhos, devido à intensidade do brilho. Tal brilho lhe despertou a curiosidade. O que seria aquele objeto, talvez uma estrela do mar, mas uma estrela do mar não produziria tal brilho, não seria também um peixe, pois era de forma acentuadamente cilíndrica, talvez uma lata, ou um caco de vidro.
            Por muito tempo ficou ali a visualizar tal objeto e o brilho parecia cada vez mais lhe ofuscar os olhos, até que inconformado e curioso e também um tanto cauteloso, pois tinha muito medo de que fosse algum animal aquático que lhe pudesse picar alguma parte do corpo, mesmo porque muito pouco adentrava as águas do mar, pois receava em muito ser vitima de algum animal marinho, principalmente tubarões ferozes dos quais sempre ouvia comentários que lhes causavam espanto, bem como sua falta de habilidade no nado.
            Porém, sua curiosidade lhe venceu o ímpeto, levantando-se e caminhando cautelosamente em direção ao objeto e quanto mais se aproximava do mesmo seu brilho  mais se acentuava, até se aproximar totalmente e verificar que se tratava de uma estrela idêntica a uma estrela do mar, porém muito brilhante, cujo brilho acentuado pela luz intensa da lua, lhe ofuscava as vistas. O que pode ser isto pensou,  será um ser vivo do qual desconhecia e pouco a pouco foi aproximando a ponta do pé direito na coisa chegando a tocar-lhe com o dedão e esta nem se mexeu. Repetiu o gesto por várias vezes e notou que tal objeto ou coisa não lhe causaria  mal algum.  Então se abaixando tomou-a em suas mãos e pode constatar tratar-se de um tipo de estrela de formação calcárea, toda incrustada de pedras transparentes que brilhavam intensamente. Era realmente uma peça rara e de uma beleza inigualável da qual nunca em sua vida ouvira falar ou saber de sua existência.
            Com aquela peça em mãos, saiu a perambular pela praia escura apenas sob o clarão da lua intensa, pensando agoniado o que fazer com aquele achado, mostrar para alguma pessoa, e se fosse uma peça de grande valor, alguém poderia ludibriá-lo e tomar-lhe a estrela, o que fazer.
            Com todos aqueles pensamentos e indagações acabou passando a noite toda acordado, já clareava o dia e ele ainda pensava em quem confiar sua descoberta.
            Cansado por ter passado a noite toda às claras, sentou-se numa mureta que circundava a praia, com os pés descalços a escavar a areia e o olhar esparramado no horizonte onde as águas do mar tocavam as nuvens, quando repentinamente um senhor de cabelos esbranquiçados,  cuja idade ultrapassava os cinqüenta anos, sentou-se ao seu lado, cumprimentando-lhe e desejando bom dia e respondendo a delicadeza do homem voltou-se para este e pôs-se a observá-lo cuidadosamente e a sua conversa para certificar-se não se tratar de um pilantra qualquer que sobre si quisesse tirar alguma vantagem de sua humildade e bondade.
            Thiago era realmente a despeito de sua posição social um ser desprovido de maldade  respeitava a todos com muito carinho.
             Após conversarem  por bom tempo e sentir a lealdade daquele senhor, Thiago resolveu indagar o estranho, dizendo-lhe:
-  Como é mesmo seu nome senhor ?, respondido-lhe o estranho:
-  Meu nome  é Gabriel.
-  Eu gostaria de perguntar uma coisa para o senhor  -  se uma pessoa chegasse para   o senhor e lhe apresentasse um objeto interessante e lhe perguntasse se o senhor já havia visto tal tipo de  objeto e se o mesmo tinha algum valor o que o senhor faria, como agiria com essa pessoa?
            Sem querer saber o motivo de tal pergunta, imediatamente o senhor Gabriel lhe respondeu:
  Senhor Thiago, uma coisa todo homem tem que cultuar consigo, nunca desejar mal ao próximo e se não puder ajudar, que não atrapalhe, nem prejudique seu semelhante, a maldade somente ocasiona desgraça para os homens e entre estes.
            Sentido um certo grau de sinceridade naquele cidadão e confiante de que aquele bom homem pudesse ajudar-lhe a solucionar o problema, apresentou ao mesmo a estrela que encontrara na praia na noite passada, explicar-lhe o acontecido e perguntando-lhe:
- Senhor Gabriel o senhor conhece ou já viu alguma vez um objeto igual a esse?
- Hó  senhor Thiago é uma linda peça e  eu nunca vi alguma coisa igual, para mim parece tratar-se de uma jóia rara de aspecto inigualável e que deve valer muito dinheiro, precisa ser avaliada por uma pessoa entendida nessa área, um joalheiro, eu acredito até que essas  pedras transparentes e de muito brilho, parecem tratar-se de brilhantes de alto quilate.
            - Mas como vou fazer se não conheço nenhuma pessoa com esse gabarito?
            - Se o senhor quiser confiar, poderemos ir juntos a um joalheiro muito honesto, chamado Ananias, meu conhecido, no qual eu confio, com certeza ele ira lhe ajudar e o senhor  terá uma boa resposta  para solução de suas duvidas.
            O sol  já estava alto com seus raios escaldantes e lá se foram os dois consultar o tal joalheiro, senhor Ananias.
            Chegando a joalheiria, o senhor Gabriel foi logo apresentando o Thiago ao  Ananias, e mostrando-lhe a estrela pediu para que avaliasse aquela peça e lhe dissesse o quanto poderia ser seu valor.
            Tomando a peça em suas mãos, o senhor Ananias enrubesceu as faces e espantado disse:
- Isto é uma jóia de muito valor, a primeira vista estas pedras são brilhantes puros, e examinando mais a fundo a estrela, realmente se convenceu tratar-se de uma jóia de grande valor, cuja estimativa ultrapassaria quinhentos mil reais.
            - E como eu poderia vender essa jóia senhor Ananias, o senhor faria isso para mim?
            - É claro que eu  venderia para o senhor, apenas descontaria uma pequena importância relativa ao meu trabalho e o restante passaria para o senhor tão logo a vendesse. Não é muito fácil tal empreitada, pois depende de aparecer uma pessoa  com condições e que possa desembolsar tal quantia, mas por ser uma jóia muito rara e bonita tenho certeza que não demorará muito tempo para ser vendida.  Somente uma pergunta – essa jóia é mesmo do senhor não é?
Respondendo o Thiago:
- Sim senhor Ananias certamente é de minha propriedade, mas não lhe revelando os detalhes de seu achado.
            Então fique com a estrela sob vossa responsabilidade e veja se consegue vende-la para mim.
             Muito bem então eu vou lhe fazer um pequeno recibo da estrela e procurarei  comercia-la o mais prevê possível, pois entendo que o senhor realmente necessita desse dinheiro da venda não é mesmo?
            E lá se foi para sua rotina o humilde Thiago.
            Tal era a sorte que parecia  rondar o caminho de Thiago, que não demorou um dia de espera para que o senhor Ananias saísse a sua procura, pois no mesmo dia que deixara a estrela para que a mesma pudesse supostamente ser comercializada, esta fora vendida a um  grande colecionador de jóias que na loja do senhor Ananias havia passado por acaso.
            Com toda sua habilidade de bom comerciante, o senhor Ananias deveras, alcançou a cifra de oitocentos mil reais, tamanha era a beleza e pureza dos diamantes que havia na jóia.
            Após perguntar para um e para outro, das pessoas que pareciam conhecer o Thiago, sobre seu paradeiro,  conseguiu localiza-lo sentado na mesma mureta da praia, exatamente no local onde encontrara a estrela.
            - Senhor Thiago, senhor Thiago, o senhor esta mesmo com sorte, acabei de vender sua estrela para uma pessoa que se interessou muito pela sua beleza e    que acabou me pagando a importância que lhe pedi, ou seja, bem acima do que lhe falei, alcancei oitocentos mil reais e tal importância está toda  aqui comigo e quero lhe passar neste momento.
            Foi um espanto para o Thiago, pois nunca em sua vida vira tanto dinheiro, de tal sorte que não sabia se chorava, abraçava o senhor Ananias, ou se corresse a procura do senhor Gabriel seu fiel amigo  e atônito, começou a derramar lágrimas de emoção, ajoelhando-se ao chão agradecendo em prantos a Deus aquele feliz momento.
            - Senhor Ananias, quero que retire desse total sua porcentagem pela venda, o que o senhor retirar para mim estará muito bom.
            - Está bem senhor Thiago, para  satisfazer meu trabalho vou retirar apenas o correspondente a dois  por cento do total da venda e o senhor ficará então com setecentos e oitenta e quatro mil reais,  está bom assim ?.
            - Claro que está senhor Ananias, o senhor foi para mim um santo me ajudando dessa maneira, não sei como lhe agradecer tal empreitada.
            - Não precisa me agradecer, peço apenas que o senhor tome muito cuidado com todo esse dinheiro e que seja muito feliz no seu aproveitamento, pois vejo que na realidade o senhor necessita e muito de acertar sua vida, eu estarei sempre a disposição e abraçando o Thiago despediu-se partindo para sua loja.
- Hó meu Deus! Que farei com todo esse dinheiro, me ilumine o pensamento para começar a gasta-lo da melhor forma possível, bem como guarda-lo em um lugar seguro, e estava lá muito pensativo, quando sem que percebesse lhe  aparece à frente novamente o bom senhor Gabriel. 
- O que está ai pensativo caro Thiago. 
- Senhor Gabriel, meu amigo, o senhor acredita que o senhor Ananias conseguiu vender minha estrela e já me entregou o dinheiro, está todo aqui e eu não sei como vou administra-lo agora.
            - Tenha calma Thiago, se você quiser eu poderei ajuda-lo dando-lhe algumas idéias que na certa vão lhe ajudar na solução dessa sua dificuldade.
            - Antes de tudo senhor Gabriel, quero lhe recompensar com parte deste dinheiro, pois se não fosse o senhor não sei o que poderia ter acontecido com a minha estrela.
            - Thiago você não me deve nada  o que eu fiz  foi por pura amizade e carinho e se vou continuar a te  ajudar será pelo mesmo motivo, nada quero de você, somente que tenhas muitas felicidades daqui para frente.
-  Então como faremos ?. 
- Primeiramente vamos até a um banco conhecido para depositar com segurança todo esse dinheiro vamos abrir uma conta em seu nome. Por ser uma quantia grande, dará para acertar totalmente sua vida daqui para frente e ainda para que possas levar uma vida mais descente e feliz em todos os aspectos.  Depois  vamos ver outras coisas necessárias, tudo por etapas.
            Tendo aberto uma conta num importante banco do local, Gabriel sugeriu ao Thiago a compra de uma casa nas proximidades em que vivia a perambular ou talves em outra localidade, porém que fosse cômoda e que pudesse doravante  fixar sua moradia, cujo ato  se concretizou em pouco tempo de negociação na qual tomou posse rapidamente. Faltavam os móveis e utensílios os quais também tranqüilamente foram providenciados. E assim, Thiago se instalou confortavelmente na nova casa.
             Os dias foram se passando e em todos os instantes dessa nova vida lá estava sempre o bom Gabriel a lhe orientar e ajudar no acerto das coisas e de toda sua vida particular.
            A cada dia que passava mais se transformava em outro homem, já não mais se lembrava dos dias angustiantes vividos antes de seu encontro com a bela estrela, fome, frio, discriminação. Era realmente uma nova vida.
            Um fator muito importante acompanhava o Thiago que era sua grande simplicidade, seu amor à vida e às pessoas, e seus pensamentos  de poder de alguma forma ajudar outras pessoas que como ele  não tiveram a mesma sorte e que viviam a mercê do destino sofrendo pela natureza afora.
            Alguns anos se passaram do seu grande achado, seu progresso de vida era acentuado, sempre com a inestimável ajuda do bom Gabriel, tendo se dedicado ferrenhamente aos estudos, chegando a concluir o nível médio de  ensino e já se preparava para ingressar numa Universidade.
            Vivendo num bom equilíbrio de vida, sentiu a necessidade de constituir uma família,  mulher e filhos.
            Apesar de ter sofrido muito na vida, Thiago tinha bons traços fisiológicos e como já andava a essas alturas sempre bem vestido e com boa apresentação não foi muito difícil conseguir  se encantar por uma bela moça, a Maria de Lourdes, que lhe devotando carinho e simpatia o aceitando e em pouco tempo se casaram indo viver juntos na casa que havia conseguido comprar.
            Suas economias, ao invés de diminuir, cada vez mais eram acrescidas de juros pelas aplicações que aprendera a fazer com o grande amigo.
            Por ter tido uma vida humilde e simples, Thiago nada sabia fazer em termos de produtividade, mas havia a necessidade de fazer algo, um trabalho, e por dispor de condições econômicas, o Gabriel lhe sugeriu a abertura de um estabelecimento comercial, mas o que seria interessante começar?.  A concretização da idéia culminou com a instalação de uma boa e bem montada padaria a qual passou atender  toda vizinhança e em pouco tempo quase já nem dava conta do trabalho, a tal ponto que ele e a mulher administravam o estabelecimento e alguns funcionários tocavam todo o serviço além de darem um especial atendimento a toda clientela.
            Seguindo sua idéia de caridade e considerando a boa produção de sua padaria, passou a separar uma parte dos pães produzidos, doando-os diariamente para uma instituição de amparo a idosos da região em que morava, doação essa que era também por ele acrescida de igual quantidade de leite para que pudessem os velhinhos ali internados,  receberem sempre o seu cafezinho da manha. Para ele o motivo de grande felicidade era ao visitar de vez em quando a Instituição, ver aqueles idosos contentes  se alimentando dos pães e leite que para ali mandava todos os dias.
             Contava dois anos de seu casamento com Maria de Lourdes, quando com muito carinho, receberam a vinda do primeiro filho, o belo e robusto Messias que viria realmente coroar toda sua felicidade, cujo nome lhe fora dado devido sua grande crença em  Jesus Cristo.
            Para culminar essa real história de sua vida, impôs ao senhor Gabriel a obrigatoriedade de ser o padrinho de seu filho, como eterna gratidão por tudo que este fizera para ele, sem querer a qualquer tempo alguma retribuição por sua ajuda, dessa forma estariam amarrados para sempre com laços de grande fraternidade.
            E assim, todos viveram felizes por muitos e muitos anos.


                                                                                  Silvio Ribeiro

           
           
                                                                                               

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